Olhas-me
sobranceiro, numa altivez feita de orgulho e presunção, instalado
na tua sabedoria como um trono e dizes conhecer tudo, até os mais
obscuros segredos do mundo. Gabas-te de conhecer o pensamento de
todos os filósofos, de ter penetrado nos meandros mais intrincados
da psicologia e abarcar como ninguém a grandiosidade do cérebro
humano; congratulas-te por compreender as mais elaboradas leis da
física e descrever os mais complexos mecanismos biológicos que
regulam os organismos; regozijas-te, por fim, com a certeza de que
ninguém como tu é capaz de citar com tamanha precisão autores
famosos ou identificar, num único relance o pai de qualquer uma das
obras de arte que povoam os nossos museus.
Eu,
porém, digo-te que nada te valem esses saberes que tanto te
esforçaste por acumular e que antes te queria ver sábio como aquele
menino pobre e sujo que saltita descalço nas poças de água
lamacentas que os rigores do inverno fizeram nascer nas vielas onde
ainda não chegou o alcatrão. Pudesses tu, como ele, ter prestado
atenção às canções que o vento nos traz e que povoam o silêncio,
ou mergulhado as mãos nas águas límpidas e frescas de uma ribeira,
seguindo o seu rasto atribulado ate ao berço de rocha nua onde
nasceu; tivesses tu, como ele, a capacidade de conhecer um coração
bondoso ou descobrir uma alma pura no brilho de um sorriso...
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