quinta-feira, 4 de abril de 2013

Da Sabedoria


Cutting a Sunbeam, © Adam Diston, 1886 




Olhas-me sobranceiro, numa altivez feita de orgulho e presunção, instalado na tua sabedoria como um trono e dizes conhecer tudo, até os mais obscuros segredos do mundo. Gabas-te de conhecer o pensamento de todos os filósofos, de ter penetrado nos meandros mais intrincados da psicologia e abarcar como ninguém a grandiosidade do cérebro humano; congratulas-te por compreender as mais elaboradas leis da física e descrever os mais complexos mecanismos biológicos que regulam os organismos; regozijas-te, por fim, com a certeza de que ninguém como tu é capaz de citar com tamanha precisão autores famosos ou identificar, num único relance o pai de qualquer uma das obras de arte que povoam os nossos museus.
Eu, porém, digo-te que nada te valem esses saberes que tanto te esforçaste por acumular e que antes te queria ver sábio como aquele menino pobre e sujo que saltita descalço nas poças de água lamacentas que os rigores do inverno fizeram nascer nas vielas onde ainda não chegou o alcatrão. Pudesses tu, como ele, ter prestado atenção às canções que o vento nos traz e que povoam o silêncio, ou mergulhado as mãos nas águas límpidas e frescas de uma ribeira, seguindo o seu rasto atribulado ate ao berço de rocha nua onde nasceu; tivesses tu, como ele, a capacidade de conhecer um coração bondoso ou descobrir uma alma pura no brilho de um sorriso...


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